“Não tenhais medo de vos fazerdes cidadãos do mundo digital” (Papa Francisco) 6g5j6q
21/04/2025
Os cristãos de todo o mundo foram surpreendidos nesta segunda-feira, 21 de abril, com a notícia da morte do Papa Francisco, aos 88 anos. Conhecido por sua proximidade com os jovens e pela ousadia na comunicação, Jorge Mario Bergoglio deixa um legado marcado pela “Igreja em saída” e pelo incentivo à presença corajosa dos fiéis no mundo digital.
Um pontífice próximo dos jovens
Desde o início do seu pontificado, em março de 2013, Francisco buscou envolver principalmente as novas gerações. Em sua primeira intervenção oficial, ao anunciar o nome escolhido em homenagem a São Francisco de Assis, deixou claro que seu papado seria pautado por um “programa comunicacional” renovador – não apenas uma simples adoção de nomenclatura, mas a promessa de um estilo de vida e evangelização ível e fraterno.
Nas Jornadas Mundiais da Juventude e em encontros locais, o Papa distribuiu abraços e beijos sem cerimônia, rompendo barreiras protocolares e aproximando-se de cardeais, seminaristas e peregrinos. Foi nesses gestos espontâneos que muitos jovens encontraram força para assumir sua fé de forma autêntica, sem medo de participar ativamente da Igreja.
“Não tenhais medo do mundo digital”
A digitalização do papado ganhou um selo franciscano quando Francisco motivou jovens a “se tornarem cidadãos do mundo digital”, encorajando-os a usar as redes sociais não apenas para lazer, mas como espaço de encontro e partilha do bem. Em 2016, ao criar sua conta oficial @franciscus no Instagram, ele revelou que desejava “caminhar com vocês pelo caminho da misericórdia e ternura de Deus”, convertendo o perfil em canal direto com milhões de seguidores.
Para o Frei Gabriel Dellandrea, guardião e reitor do Convento da Penha, um dos estudiosos do paradigma “Igreja em saída”, essa postura foi essencial para formar uma nova evangelização: “Primeirear é tomar a iniciativa: envolver-se, acompanhar, frutificar e celebrar junto aos jovens. Francisco exigiu que a Igreja fosse capaz de sair ao encontro, também no universo digital”.
Comunicação sem intermediários
Rompeu-se com a tradição de discursos apenas em documentos e textos oficiais. O novo pontífice deu entrevistas espontâneas – a primeira, já em julho de 2013, ao jornalista brasileiro Gerson Camarotti – e usou metáforas maternas para explicar que uma Igreja que só fala por cartas torna-se distante de seus filhos. Na entrevista a Antonio Spadaro, reforçou: “Não estou acostumado às massas. Sem gente eu não posso viver. Eu preciso viver junto dos outros”.
Foi ele quem, a 27 de junho de 2015, instituiu o Dicastério para a Comunicação, reunindo todos os meios vaticanos sob uma só direção e criando o portal Vatican News, com transmissão multilíngue e multicanal, pensado para “comunicar o Evangelho da misericórdia a todos os povos”.
Na Frente de Comunicação da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, o pontificado de Francisco serviu de bússola. Na Evangelii Gaudium, ele afirmou: “O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: “O amor de Cristo nos absorve completamente” (2 Cor 5, 14); “ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16) (FRANCISCO, EG, par. 9).
Entre os inúmeros gestos que marcaram seu papado – a conta no até então Twitter @pontifex, a simplificação de aparições, o uso de vídeos em primeira pessoa – destaca-se a convicção de que “o bem tende sempre a comunicar-se”. No texto da “Alegria do Evangelho”, ele lembrava que toda verdade e beleza se expandem por si só, e que aqueles libertados pelo amor de Cristo se tornam sensíveis às necessidades dos outros.
Sentimos muito a morte do Papa que os ensinou a “construir pontes, não muros”. Será difícil esquecer o pontífice que virou do avesso a comunicação da Igreja e fez do mundo digital um terreno fértil para o anúncio da Boa Nova.
Frei Augusto Luiz Gabriel