Julho 2021 672r1z

Meditação 574z1r
QUE Ã MEDITAR?
Todos os mestres de espiritualidade são unânimes em dizer que uma vida em Deus supõe o cuidado de caminhar na presença do Senhor, de modo particular por meio de uma vida de oração. Aqui algumas reflexões sobre a modalidade de oração que chamamos de meditação.
Ler é tomar conhecimento do sentido das palavras e frases. Meditar é fazer com que um pensamento penetre o mais Ãntimo de nós mesmos. à confrontar a Palavra que ouvimos e o texto que percorremos com os olhos com o concreto de nossa vida. à desfrutar de luz e de vida . à permitir que essa luz penetre em nós.
Tal assimilação, em geral, se faz lentamente. Necessário que eu tenha o tempo de mobilizar todo o meu âconhecidoâ diante deste âdesconhecidoâ. Tempo de prestar atenção ao novo que, pela reflexão e silêncio, vão irrompendo dentro de mim. Novidades e surpresas.
Meditamos para ter a alegria de compreender e dilatar nosso ser. Somos aquilo que compreendemos. Tentamos compreender para ser.
Podemos refletir, meditar sobre tudo o que nos cerca e nos envolve. Mas meditamos particularmente para conhecer a Deus. Esse conhecimento, de alguma forma acelera sua âvinda a nósâ ou nos torna aptos a descobri-lo em nós.
Medita-se sobre Deus para chegar até ele., para encontra-lo porque o conhecimento leva ao amor. O amor faz querer o que se ama,
O homem tem necessidade no curso habitual das coisas de refletir, meditar, pensar e refletir: sua inteligência se abre e se dá progressivamente por constante fidelidade, amor, apego, dom de si cada vez mais perfeito.ao Mistério.
O que estamos a dizer pode levar a crer que a meditação seja um mero labor da mente. Deus, no entanto, não deixa a alma de boa vontade entregue à s suas forças. Quando dizemos âJesusâ sob a influência do EspÃrito Santo, o nome de Jesus ganha em nosso interior uma nova ressonância e somente assim ele nos revela seu verdadeiro sentido. Quando dizemos âPaiâ sob o influxo do Espirito Santo a palavra se reveste de ternura sobrenatural que nos leva a pressentir o mistério do amor divino.
Deixar a palavra âAbba, Paiâ ressoar em nossa alma de filho do homem repleta de lembranças familiares e em nossa alma de batizados ornadas da graça dos filhos de Deus, é meditar.
Não é necessário ler muito. Importante é meditar muito. A multiplicação de leitura pode empobrecer. A meditação de uma só palavra enriquece sobremaneira.
Procurar conhecer a Deus segundo toda a luz que ele colocou em mim deveria ser a paixão dominante de minha vida.
Nos estudos não podemos parar no plano especulativo e intelectual; haveremos de procurar conhecer com o todo de nós mesmos â precisamente o que é meditar â para dirigir nossas vida segundo o que tivermos conhecido.
Texto de apoio
Le goût de Dieu
Dom Germain Barbier
CERF, p. 112-114
Imagem ilustrativa: Catholic Pictures (https://www.cathopic.com/)
História
OS PRIMEIROS OS DA LITURGIA DA IGREJA
No dia de Pentecostes, quando da vinda do EspÃrito Santo âestão todos juntos num mesmo lugarâ (At 2,1). Não se trata de um mero acaso. Os cristãos não são crentes isolados. A palavra Igreja quer dizer assembleia. Por isso, desde o começo vemos que eles se reúnem e de reagrupam.
O dia do Senhor
A comunidade cristã de Jerusalém, onde a maioria é constituÃda de judeus convertidos, observa o sábado. Como o Cristo ressuscitara no dia seguinte, quer dizer no primeiro dia da semana, a partir do II século os cristãos aram a ter o hábito de se reunirem nesse dia, que se chama Dia do Senhor ( em Latim dies dominica, de onde vem a palavra domingo).
Como dirá mais tarde um mártir: âNão podemos viver sem celebrar o dia do Senhorâ. No século III o domingo se tornou o aniversário da Páscoa de Cristo, celebrado cada semana.
A liturgia do domingo
âNesse dia os cristãos têm o costume de se reunirem antes da aurora e de cantar alternadamente hinos em honra de Cristoâ, dizia PlÃnio o Jovem em sua carta ao imperador Trajano. Os coros alternados se reportam aos salmos. Aos poucos a celebração vai ganhando forma.
Durante muito tempo, o bispo é que preside a assembleia, cercado seu âpresbiteryumâ (palavra latina que designa os âanciãosâ, a equipe pastoral do bispo), De maneira geral a lÃngua utilizada para a celebração é aquela falada no lugar. No começo, em Jerusalém era o aramaico, a lÃngua que Jesus falava.
Logo em seguida as comunidades reagrupando âpagãosâ convertidos se multiplicam. Fala-se grego e a situação faz nascer uma liturgia de lÃngua grega tanto no Oriente como no Ocidente. Para além do rio Eufrates utiliza-se o sirÃaco. No século III, predomina o latim em certas regiões da Ãfrica do Norte. Foi somente 350 que a liturgia romana com essa lÃngua se âlatinizaâ.
Em Roma as vestes do celebrante e dos que o assistem é a comum usada pelos cidadãos todos os dias. A veste externa é a túnica, espécie de camisolão sem mangas feita de tecido branco. Entre as duas o bispo usa a dalmática que São Cipriano tirará no momento de seu martÃrio.
Os cristãos rezam de pé
Na época, os cristãos rezam de pé. Tal atitude significa ao mesmo tempo respeito (levanta-se para acolher um hóspede, um visitante) e a liberdade outorgada a Cristo aos que nele creem.
Colocar-se de joelhos normalmente é uma postura penitencial. São Lucas nos mostra Paulo orando de joelhos com os âanciãosâ da comunidade de Ãfeso vindos a Mileto fazer suas despedidas.
Como durante as celebrações as pessoas não se assentavam, por isso não eram previstos assentos para os fiéis nos locais de culto. Acontecia até mesmo que se sentavam no chão. A posição sentada era reservada para aquele que ensina. Destarte o bispo tem um assento próprio do qual ele se dirige aos fieis. Esse assento é chamado de cátedra, palavra que está na origem de catedral. A catedral é a igreja em que o bispo tem sua cadeira para ensinar a fé.
A liturgia do domingo segundo São Justino. (sec. II)
âNo chamado dia do Sol, reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram nas cidades ou nos campos. Leem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na medida em que o tempo permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão sublimes ensinamentos. Depois, levantamo-nos todos juntos e elevamos as nossas preces; ao acabarmos de rezar apresentam-se pão, vinho e água. Então o que preside eleva ao céu, com todo o seu fervor, preces e ações de graças, e o povo aclama: Amém. Em seguida, faz-se entre os presentes a distribuição e partilha dos alimentos que foram eucaristizados, que são também enviados aos ausentes por meio dos diáconos. Os que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada. O que se recolhe é colocado à disposição de quem preside, Este socorre os órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer outro motivo se acham em dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de viagem; numa palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados.
Lecionário Monástico III, p. 450-451
Estudo
SACRAMENTO DA UNÃÃO DOS ENFERMOS
1. Sacramento da ternura de Deus
Neste número de nossos Cadernos de Formação, começamos a estudar o Sacramento da Unção dos Enfermos, apoiados num sólido artigo de Vincent Guibert, sacerdote da Diocese de Paris, publicado na Nouvelle Revue de Théologie 134(2012).p. 215-232.
âUm samaritano aproximou-se, cuidou de suas chagas (do homem caÃdo na estrada), derramando óleo e vinho, depois colocou-se em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidadosâ(Lc 10,33-34). Os Padres da Igreja sempre propam uma identificação do Bom Samaritano que se aproxima deste homem mortalmente ferido. Trata-se do Verbo de Deus que, no mistério de sua encarnação assumiu nossa natureza humana. Ao longo do Evangelho, Jesus se revela o Salvador, indo a encontro do sofrimento fÃsico e moral. âAo entardecer trouxeram-lhe muitos endemoninhados e ele, com uma palavra, expulsou os espÃritos e curou todos os que estavam enfermos.a fim de cumprir o que foi dito pelo profeta IsaÃas; Tomou nossas enfermidades e carregou nossas doenças.(Mt 8, 16-17; cf. Is 53,40) Ao citar o poema do Servo Sofredor de IsaÃas, o evangelista Mateus sugere a transferência de nossos males fÃsicos e mais ainda os espirituais para a pessoa de Jesus Este não somente venceu as doenças com suas intervenções miraculosas, mas também e sobretudo em seu Mistério Pascal Em Getsêmani carregou sobre si toda a fragilidade humana e experimentou tristeza: âMinha alma está triste até à morteâ (Mt 26.38). A Paixão e Ressurreição exaltam a vitória de Cristo sobre o sofrimento e a morte abrindo para os homens o o à salvação total: na comunhão com Deus.
O Cristo Bom Samaritano não pode aceitar que o homem fique ferido porque veio socorre-lo. Por isso ele dá dois dentários ao hospedeiro para que cuide dele. Por isso ele confia os sacramentos, o pão, o vinho, o óleo que prolongam seus gestos de salvação esperando a sua volta. O ministério da cura faz parte do envio em missão dos discÃpulos: âeles imporão as mãos sobre os enfermos e estes ficarão curadosâ (Mc 16,18).
Segundo Péguy, a medula do catolicismo é a ternura. A mediação sacramental manifesta-a pelo modo como Cristo vem ao socorro da humanidade ferida em busca de consolo na provação. Quinto sacramento segundo a nomenclatura estabelecida por Pedro Lombardo, no século XII a unção dos enfermos ainda é um sacramento não tão profundamente conhecido. A própria complexidade de sua história serve de embaraço para o teólogo e o pastor e, no entanto, é aà que se encontra seu atrativo: situado na articulação do psicológico e espiritual dá a pensar. Nem sempre o doente sabe explicitamente o que ele procura. Fundamentalmente, no entanto, está em busca de unidade, de felicidade. Mesmo sentindo-se dilacerado por muitas forças que o angustiam, ele espera reencontrar a saúde mesmo no alto ponto da enfermidade com a recepção do sacramento da unção já que se sente afetado tanto no corpo como no espÃrito.
Nota:
Ao longo dos números seguintes desses nossos Cadernos continuaremos a estudar o tema, ou seja, como se manifesta por meio dele a ternura de Cristo.
Um pensamento forte
QUANTAS PESSOA TEMOS ALENTADO COM NOSSA ESPERANÃA?
Jesus não nos pede que conservemos sua graça numa caixa forte. Não nos pede isso, mas, antes, quer que a usemos em benefÃcio dos demais Todos os bens que recebemos existem para ser partilhados com os demais e assim eles crescem. à como se nos dissesse: âAqui tens minha misericórdia, minha ternura, meu perdão: toma-os e faz amplo uso delesâ E nós o que temos feito com isso? A quem temos contagiado com nossa fé? A quantas pessoas temos alentado com nossa esperança? Quanto amor temos partilhado com nosso próximo?
Papa Francisco
Angelus – Praça de São Pedro , 16 de novembro de 2014
Nesta edição
CADERNOS DE FORMAÃÃO
Julho de 2021
Este é o sétimo Caderno de Formação de 2021. Nossos temas: meditação, os começos da vida litúrgica na Igreja, inÃcio de estudo sobre o sacramento da unção dos enfermos
Boa Leitura!
Frei Almir