Sexta-feira da Paixão, dia para refletir o sentido da morte. Ela faz parte do trem de nossa história pessoal, mas como é difícil acolhê-la. São Francisco, no ponto alto de sua espiritualidade, a chama de irmã morte. Morrer é um esperançar para os que vão e os que ficam. Perguntas, no entanto, permanecem no nosso coração: Por que morrer? Para que morrer? Será que Deus nos abandonou na hora morte? Ele abandonou Jesus. sus, no momento final de sua vida, pregado na cruz, ele soltou um grande grito de dor: “Meu Deus, meu Deus, para que me abandonaste? (Mc 15,34; Mt 27,46).
Jesus gritou em aramaico, língua que deu origem ao hebraico. “Lamá” em hebraico, língua próxima ao aramaico, é “lemá”, mas também “lamá”. Jesus disse “Lama”, seguido de “sabachtháni” – me abandonaste, que é a junção da partícula interrogativa “máh” com o complemento “le”, e significa “para que”, podendo também ser traduzido por “por que”. Isso pode ocorrer tanto no aramaico quanto no hebraico. O uso do para quê expressa a motivação da morte Jesus. Por isso, que há diferença entre eles. O “porquê” nos remete ao ado, e o “para que”, ao futuro.
Quem pergunta pelo “porquê” da morte de uma pessoa querida faz perguntas sem respostas: Eu podia ter sido mais cuidadoso com ele ou ela? Eu podia ter perdoado e recebido o perdão? Eu podia, mas não posso mais! Quem muda a pergunta e diz “para que” se lança para o futuro. Não mais justifica a morte, mas dá um novo sentido para ela. Era o seu momento. Fiz tudo que tinha que fazer, a amei em vida. Mudando a pergunta, a morte ganha um novo sentido. E o luto termina. Jesus, na hora da morte, com o seu grito, entendeu que a sua morte era redentora, salvaria muitos, levaria muitos para a casa do Pai, até ladrões convertidos. Por isso, Jesus morreu entregando o espírito e acreditando que tudo estava consumado. Nesse tempo de dor, guerras, um futuro melhor nos espera no “para que” de tudo isso. Sejamos melhores do que fomos até agora. Coragem, o Deus humanado foi crucificado, ou pela paixão, foi solidário conosco na dor, no abandono e na traição. Ele venceu. Venceremos!
Frei Jacir de Freitas Faria